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Filipenses 1 - Comunhão Espiritual resultante da vida dedicada à Cristo


(v. 1 - 2) - A carta aos filipenses demonstra o valor da comunhão da Igreja, da unidade em Cristo e de como a presença dos irmãos devem evidenciar a provisão de Deus em meio às adversidades. E Paulo já demonstra isso em sua saudação quando inclui Timóteo como coautor da carta. Nesse estudo da carta, será referido como autor apenas o nome do apóstolo Paulo por uma questão prática, contudo, tenham em mente de que a carta foi escrita em conjunto, e portanto, reflete um dos princípios que norteiam a vida da Igreja, a saber, a cooperação entre os irmãos e a ajuda mútua.

Paulo escreve a carta ao povo santo que reside em Filipos, como também aos bispos e diáconos. Os bispos, no gregoεπισκοποςepiskopostem o significado de supervisores. Paulo, antes de se referir aos líderes da igreja de forma específica, os inclui ao povo santo. Muitas vezes os líderes são vistos como seres autossuficientes pela própria congregação, todavia, Paulo visa mostrar que, independente de cargos eclesiásticos, os líderes dependem do cuidado e supervisão dele. Mesmo que os supervisores e os servidores (diakonos) sejam pessoas competentes e maduros espiritualmente, e portanto, capazes de cuidar e servir a congregação, são pessoas que dependem da graça de Deus e precisam de palavras de orientação, exortação e incentivo.


Paulo presente pela memória

(v. 3 - 6) - Paulo tinha boa estima de seus irmãos filipenses pelo fato de terem uma boa relação desde o início na propagação do evangelho. Para o apóstolo, o mero ato de pensar nos filipenses era motivo de agradecer ao Senhor. Era uma alegria para Paulo orar por estes irmãos tão dedicados à obra. Por causa disto, Paulo escreve uma de suas mais ilustres frases: Estou certo de que aquele que começou a boa obra irá completá-la até a vinda do Senhor Jesus Cristo. A obra, no entanto, não é uma obra terrena ou algo que possamos conquistar por nossas forças, mas a obra interna no coração de todo crente em Jesus. Quando Cristo voltar, seremos semelhantes a Ele plenamente (1Jo 2-3), e portanto, a obra que Deus está realizando até que Ele venha, é a própria formação do caráter de Cristo em nós. Paulo tinha certeza da completude da obra nos filipenses, porque esta comunidade não titubeou frente as perseguições e adversidades, e isto é a prova de que não se desviarão e se manterão firmes até Jesus voltar.

Semelhantemente, o apóstolo Pedro disse algo sobre aqueles que já sofreram por Cristo e não O abandonaram. Quando o crente chega ao ponto de sofrer (inclusive fisicamente) e permanecer, é o ponto em que se prova que o cristão não busca os próprios desejos, mas faz a vontade de Deus. (1Pe 4:2-3). Portanto, o enunciado “sofrer por Cristo”, na linguagem dos apóstolos, é fazer a carne chorar no lugar de sacrificar a vontade de Deus. O verdadeiro cristão sofre por Cristo no sentido de que prefere obedecer à vontade do Senhor ao invés de obedecer a demanda da carne, não cedendo à ela.

A memória de Paulo para com a igreja dos filipenses era, portanto, de plena satisfação, pois mesmo em casos de dificuldades se mantiveram perseverantes e fieis ao Senhor Jesus. Aqueles que pulam do barco no primeiro problema aparente, fazem com que seja impossível que a obra se complete até a volta de Jesus, sendo, então, pessoas que visam apenas os próprios interesses, isto é, seu conforto frente às dificuldades, e por isso, cedem à carne quando em momentos difíceis.


Paulo presente pelo coração

(v. 7 - 8) - Paulo demonstrava amor pelos filipenses com todo seu coração. A prova disso era de que estava preso e os filipenses estavam ativamente participantes de sua prisão, tanto quanto da confirmação do evangelho. Paulo apela dizendo que Deus é testemunha do amor e da saudade que sentia pelos filipenses, inclusive, a compaixão de Paulo vinha do próprio Cristo. A forma de demonstrarmos amor, deve ser pelo filtro de Jesus Cristo. O lindo poema de 1 Coríntios 13 sobre o amor só é possível de ser realizado quando derramado este amor em nossos corações, fazendo assim, com que todo cristão que busca imitar a Cristo seja capaz de se ter tamanho amor pelos irmãos.


Paulo presente pelas orações

(v. 9 - 11) - O amor de Deus deve ser transbordado, ou seja, esse amor deve ser passado para outros corações. Além do amor, o conhecimento e discernimento devem crescer para que se compreenda o que de fato é importante. E o que seria verdadeiramente importante para Paulo? O fato de ser um cristão que viva de modo puro e sem culpa até Jesus voltar é o que o apóstolo compreende como algo importante.

Algumas traduções sugerem no lugar de “puro” a palavra “sinceros”. O significado que mais se aplica a palavra “sinceros” é de “testados à luz do sol”. Ora, o cristão que vive uma vida sincera não se preocupa em ser exposto a luz. Outro significado da palavra “sincero” no grego dá a ideia de algo “que gira em uma peneira”, sugerindo algo que separa a palha do trigo. O comentarista bíblico Warren W. Wiersbe aponta que em ambos os casos a verdade é a mesma: “Paulo ora para que seus amigos tenham um caráter que possa ser testado e aprovado” (p. 84). No português, a palavra “sincero” vem do latim sinceru, que significa: sem mistura, não adulterado, e a tradução sugerida pela NVT, que é “puro”.

A oração de Paulo para que cresça o amor, o conhecimento, o discernimento, oração esta que estimula uma vida separada, ou seja, pura e sincera, e sem culpa, é para que seja uma vida que dê frutos de justiça que só é possível por meio de Jesus, e esta vida, portanto, com todas essas características, é uma vida que é totalmente vocacionada para o louvor e a glória de Deus.


O que é o sofrer por Cristo?

(v. 12 - 14) - Mesmo com toda dificuldade na prisão, o apóstolo é convicto de que tudo o que tem acontecido com ele tem ajudado na propagação do evangelho. Duas coisas aconteceram com a prisão de Paulo:

1°. Todos que guardavam o palácio em que o apóstolo estava preso conheceram Jesus Cristo. Tendo em vista de que Roma era pagã e cultuavam outros deuses, a prisão de Paulo foi fundamental para o conhecimento de Jesus Cristo em um local dominado por outro tipo de cultura.

2°. Os irmãos que viviam em Roma, onde Paulo estava preso, foram estimulados a anunciarem a mensagem com mais ousadia e com mais determinação, pois Paulo os incentivava. E se, Paulo estando preso, não desanimou, era mais um motivo para que os irmãos em liberdade se dedicassem mais a obra.

Esta ocasião em que Paulo esteve faz lembrar que “Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que O amam e que são chamados de acordo com Seu propósito” (Rm 8:28, NVT). Neste contexto da carta aos romanos, o propósito de Deus era de que todo aquele que é conhecido de Deus está predestinado à se tornar semelhante ao Filho, ou seja, tudo que acontece na vida de cada cristão, contribui para o mesmo se parecer com Jesus Cristo. Portanto, todo aquele que recebe a Mensagem e passa a fazer parte da Igreja, tem como destino final ser como Cristo. A palavra “predestinado”, então, se aplica a ordem divina para todo cristão que tem por fim à imagem de Cristo. Ora, o cristão que não busca se assemelhar à Cristo, não tem por destino final a obra completada, ou seja, ter Cristo formado dentro de si.


(v. 15 - 19) - Mesmo que alguns irmãos anunciavam o evangelho por amor, alguns outros estavam fazendo por ambição egoísta, de modo que seu trabalho fosse atingir ao apóstolo. Ele não dá muita explicação de quem sejam esses que pregavam para o afrontar, contudo, ele não se importou, contanto que Cristo fosse anunciado, independente das motivações. Isso nos dá a entender que estes que pregavam por motivações egoístas não pregavam outro tipo de evangelho, nem nenhuma heresia, porém Paulo só mostra que as motivações deles eram erradas. O apóstolo permanece alegre, pois contava com as orações dos filipenses.


(v. 20 - 26) - Quer o apóstolo fique vivo ou morra na prisão, a expectativa que ele tinha era de que não ficasse decepcionado por toda a vida que levava. Ele esperava que, pelo seu corajoso trabalho, Cristo fosse honrado através dele. É daí que Paulo escreve sua emblemática frase: para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Paulo sabia que independente de sua prisão e de toda sua trajetória se provações, ele continuaria a trabalhar para Cristo. As circunstâncias não prendiam a mensagem que ecoava de sua vida. Desta sua reflexão que nasce um dilema para ele: Paulo preferia muito mais partir e estar com Cristo. Imagine por um único momento não ter que lidar com diversos problemas que aparecem em nosso cotidiano como: problemas emocionais, financeiros e familiares, e apenas desfrutar da doce presença do Senhor Jesus eternamente? Agora multiplica estes problemas. Era o que o apóstolo enfrentava na prisão romana. Contudo, o dilema de Paulo era que mesmo que seria melhor para ele partir e estar com Cristo, o mais importante era que ele continuasse a viver pelo bem da Igreja. O apóstolo Paulo, depois de Jesus Cristo, é um dos maiores exemplos de auto sacrifício pelo bem do próximo. Em um outro momento, na carta aos romanos, Paulo diz que “estaria disposto a ser amaldiçoado para sempre, separado de Cristo, se isso pudesse salvá-los” (Rm 9:3). Obviamente isso seria impossível, entretanto, esta hipérbole, muito comum na linguística judaica, demonstra a compaixão de Paulo pelos seus semelhantes.


(v. 27 - 30) - O ponto chave e o resumo deste capítulo 1 se encontra no verso 29: “Pois vocês receberam o privilégio não apenas de crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”. A luta enfrentada por Paulo e pela congregação de Filipos não era o sofrer em si, mas como vimos anteriormente, sofrer por Cristo é não ceder à carne. Cremos em Cristo, e por isso, sofremos na carne. O ímpio não sofre na carne, pois ele cede aos seus desejos, e portanto, não se vê mortificando-a. O sofrimento de quem segue a Cristo é pelo fato de ter que matar a carne. Ora, qual era o sofrimento de Paulo e dos filipenses? Ser perseguido? Era Paulo enfrentar dificuldades como a fome em alguns momentos? Evidentemente que não! O sofrimento consistia em tanto Paulo como os filipenses não revidarem aos seus perseguidores pois deveriam ter a mesma atitude de Cristo. Eles poderiam não sofrer se negassem a vida que o evangelho propõe, que seria o simples fato de não precisarem ter que lidar com sua natureza quando fossem mal tratados ou perseguidos. Ser perseguido é um tipo de sofrimento? Sim, se você está decidido a reagir como Cristo, isto é, não revidando sendo vingativo. E não, se você decidir reagir com a carne, pois satisfazendo-a, não há oposição do Espírito de Deus, e é esta oposição que faz doer a carne.

Se decidirmos reagir como Cristo em meio às dificuldades, nossa carne irá sofrer, e vamos sentir o choro dela. Contudo, ter a mesma atitude de Cristo nos faz cada vez mais firmes, fieis e alegres Nele. Este é o paradoxo da Mensagem da cruz: o sofrimento de Cristo lhe deu a mais alta honra.


Na lição, aprendemos que o apóstolo Paulo estava presente na vida dos filipenses independentemente da distância geográfica. Paulo se sentia conectado com seus irmãos em um só Espírito e propósito.

Isto é a comunhão! Esta comunhão se deve ao fato de Paulo não ter fugido de seu sofrimento, antes, dedicou sua vida inteiramente a Jesus, mesmo nas dificuldades, e isto tudo por amor a Deus e à Igreja de Cristo.


Que possamos refletir em como podemos nos dedicar mais ao evangelho nos desenvolvermos, para que nossos irmãos possam desfrutar ainda mais do que temos de Cristo.

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