top of page

Gálatas 2 - Introdução ao argumento da justificação

Atualizado: 9 de fev. de 2023


No capítulo 2, temos Paulo continuando defendendo o evangelho. Contudo, desta vez, ele relata um embate que teve diretamente com os falsos irmãos em uma conferência e também com Pedro posteriormente. Neste capítulo, Paulo introduz o argumento geral da carta, onde expõe a verdade do Evangelho acerca da justificação pela fé em Cristo e não pela Lei.


(v. 1-3) "Catorze anos depois, voltei a Jerusalém, dessa vez com Barnabé, e Tito também nos acompanhou. Fui para lá por causa de uma revelação. Reuni-me em particular com os líderes e compartilhei com eles as boas-novas que tenho anunciado aos gentios. Queria me certificar de que estávamos de acordo, pois temia que meus esforços, anteriores e presentes, fossem considerados inúteis. Mas eles me apoiaram e nem sequer exigiram que Tito, que me acompanhava, fosse circuncidado, embora fosse gentio."


Paulo faz questão de dizer que estava com Barnabé e Tito. Barnabé por ser um judeu e Tito, um gentio. Nisto, ele mostra que andava com ambos os grupos e diferentemente dos falsos mestres, não fazia distinção cultural entre os povos, no sentido de que, só é justificado aqueles que primeiro se tornam judeus pela circuncisão.

Durante catorze anos após sua visita à Jerusalém, Paulo pregou o evangelho aos gentios, evangelho este que não obrigava-os a circuncidar-se e nem observar as leis judaicas a fim de serem considerados justos. Paulo, após estes anos, volta a Jerusalém por obediência ao Senhor e mostra aos apóstolos o que pregou durante esses anos. Sua intenção era contestar com os apóstolos que sua mensagem anunciada aos gentios não foi em vão. E foi o que aconteceu, os próprios apóstolos aprovaram a mensagem, concordando que os gentios receberiam o Senhor Jesus por meio da fé e não por obediência a Lei.


(v. 4-5) "Essa questão foi levantada apenas por causa de alguns falsos irmãos que se infiltraram em nosso meio para nos espionar e nos tirar a liberdade que temos em Cristo Jesus. Sua intenção era nos escravizar, mas não cedemos a eles nem por um momento, a fim de preservar a verdade das boas-novas para vocês."


"Essa questão" que o apóstolo diz é o argumento dos falsos irmãos que falavam que era necessária a circuncisão para os irmãos gentios. O termo "Infiltraram" ou "Entremeteram" (ARA), sugere uma conspiração entre os intrusos que infiltraram seu modo de pensar nas igrejas e aqueles de dentro que facilitaram a operação sorrateira deles.

Nesta reunião, Tito não foi constrangido a circuncidar-se, mostrando assim, que os apóstolos não concordavam com a disseminação dos argumentos dos falsos irmãos. Todavia, Paulo resistiu a esses falsos irmãos que buscavam escravizar pela mensagem que a Lei justifica.


(v. 6-8) "Quanto aos líderes — cuja reputação, a propósito, não fez diferença alguma para mim, pois Deus não age com favoritismo —, nada tiveram a acrescentar àquilo que eu pregava. Ao contrário, viram que me havia sido confiada a responsabilidade de anunciar as boas-novas aos gentios, assim como a Pedro tinha sido confiada a responsabilidade de anunciar as boas-novas aos judeus. Pois o mesmo Deus que atuou por meio de Pedro como apóstolo aos judeus[d] também atuou por meu intermédio como apóstolo aos gentios."


Esses líderes, são homens que Paulo não conhecia, mas que aparentavam ter certas posições importantes dentro da Igreja. Esses irmãos não acrescentaram nada na pregação de Paulo, e o mesmo não superestimava a importância deles. Contudo, perceberam a importância do apóstolo na proclamação da Mensagem para os gentios sem a necessidade da circuncisão.


(v. 9-10) "De fato, Tiago, Pedro [Cefas] e João, tidos como colunas, reconheceram a graça que me foi dada e aceitaram Barnabé e a mim como seus colaboradores. Eles nos incentivaram a dar continuidade à pregação aos gentios, enquanto eles prosseguiriam no trabalho com os judeus. Sua única sugestão foi que continuássemos a ajudar os pobres, o que sempre fiz com dedicação."


Os três mais influentes apóstolos da época encorajaram Paulo a continuar com sua pregação aos gentios. Esse seria motivo suficiente para calar os falsos mestres da Galácia. Tiago, Pedro e João reconheceram a mensagem de Paulo como autoritativa, isto é, como Palavra de Deus anunciada aos gentios.


(v. 11-13) "Mas, quando Pedro veio a Antioquia, tive de opor-me a ele abertamente, pois o que ele fez foi muito errado. No começo, quando chegou, ele comia com os gentios. Mais tarde, porém, quando vieram alguns amigos de Tiago, começou a se afastar, com medo daqueles que insistiam na necessidade de circuncisão. Como resultado, outros judeus imitaram a hipocrisia de Pedro, e até mesmo Barnabé se deixou levar por ela."


Em uma outra ocasião, após a conferência e de terem feito os acordos, Pedro foi pego em uma falta. Gosto deste verso 11 na tradução ARA, que diz: "resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível". Diferente dos falsos mestres, Paulo se opôs à Pedro face a face, ou seja, mostrou que caso tenha o que falar por conta do erro de alguém, repreenderia pessoal e francamente, sem disseminar contenda de forma oculta; por trás da pessoa. Pedro precisou ser repreendido pois seu comportamento deu a entender duas coisas: primeiro que, Pedro deixou de comer com os gentios com medo dos judeus amigos de Tiago o julgasse como transgressor da Lei. Segundo que, seu comportamento deu a entender também para os gentios que a fé em Jesus Cristo não era suficiente para ser justo, mas era necessário o cumprir a Lei. Pedro era tão influente que até Barnabé, que passou anos viajando com Paulo, se deixou levar por esse comportamento. O problema realmente era não comer? De modo algum. O problema é condicionar a mensagem da justificação a meros rituais. Se é judeu, não tem problema em não comer ou comer. Pedro poderia nunca comer o alimento por ser judeu, contudo, sua hipocrisia consiste em não querer mais comer pelo fato dos judeus que ali se achegaram crêem que a comida e bebida justifica o homem. Mas o Reino de Deus não é comida nem bebida.


(v. 14-16) "Quando vi que não estavam seguindo a verdade das boas-novas, disse a Pedro diante de todos: “Se você, que é judeu de nascimento, vive como gentio, e não como judeu, por que agora obriga esses gentios a viverem como judeus? Você e eu somos judeus de nascimento, e não pecadores, como os judeus consideram os gentios. E, no entanto, sabemos que uma pessoa é declarada justa diante de Deus pela fé em Jesus Cristo, e não pela obediência à lei. E cremos em Cristo Jesus, para que fôssemos declarados justos pela fé em Cristo, e não porque obedecemos à lei. Pois ninguém é declarado justo diante de Deus pela obediência à lei”."


Qual seria a verdade que Pedro não estava seguindo? Era de se apartar deliberadamente da comunhão com os gentios. Isso mostrou para Paulo falta de integridade como traição da verdade de Deus. Cristo derrubou o muro que fazia divisão entre os povos, unindo e reconciliando gentios e judeus (Ef 2:14-16). Esta atitude de Pedro e de alguns líderes levantou tijolos onde a passagem deveria estar livre.

Pedro não obrigava aos gentios a viverem como judeus no sentido coercitivo, todavia, esse testemunho de na frente dos gentios ser uma coisa e na frente dos judeus ser outra constrangia os gentios à adotarem as práticas e costumes de adoração judaica. Lutero, sobre o versículo 14, diz:


"Viver como judeu não é nada mau. Comer ou não comer carne de porco, que diferença faz? Mas brincar de judeu, e por causa da consciência, abster-se de certos alimentos, é uma negação de Cristo. Quando Paulo viu que a atitude de Pedro tendia a isso, ele resistiu a Pedro e disse-lhe: "Você sabe que a observância da Lei não é necessária para a justiça. Você sabe que somos justificados pela fé em Cristo. Você sabe que podemos comer todos os tipos de carnes. No entanto, por seu exemplo, você obriga os gentios a abandonar a Cristo e retornar à Lei. Você dá a eles motivos para pensar que a fé não é suficiente para a salvação""


A partir do verso 16, Paulo passa a expor a ideia geral da carta, mostrando que a justificação vem somente pela fé em Cristo Jesus e não pela obediência à Lei.


(v. 17-21) "Mas, se a busca da justiça por meio de Cristo nos torna culpados de abandonar a lei, isso torna Cristo responsável por nosso pecado? De maneira nenhuma! Se, pois, reconstruo o antigo sistema da lei que já destruí, então faço de mim mesmo transgressor da lei. Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. Não considero a graça de Deus algo sem sentido. Pois, se a obediência à lei nos tornasse justos diante de Deus, não haveria necessidade alguma de Cristo morrer."


Qual, então, a grande problemática da igreja dos Gálatas? Para os falsos mestres, deixar de cumprir as ordenanças da Lei, era como se tivesse desobedecendo o próprio Deus. Se eles, que buscavam cumprir a Lei também são considerados pecadores que necessitam da graça justificadora, então, Cristo se torna um agente do pecado, pois para eles a Lei os protegeria do pecado. Contudo, na carta aos romanos, Paulo explica que na verdade o que nos trouxe consciência do pecado, foi justamente a Lei, não por conta da Lei propriamente dita, mas do pecado que habita na carne. O pecado se apropriou da Lei para cumprir na carne a desobediência à Lei de Deus.


"Por acaso estou dizendo que a lei de Deus é pecaminosa? Claro que não! Na verdade, foi a lei que me mostrou meu pecado. Eu jamais saberia que cobiçar é errado se a lei não dissesse: “Não cobice”. Mas o pecado usou esse mandamento para despertar dentro de mim todo tipo de desejo cobiçoso. Se não houvesse lei, o pecado não teria esse poder. Houve um tempo em que eu vivia sem a lei. No entanto, quando tomei conhecimento do mandamento, o pecado ganhou vida, e eu morri. Assim, descobri que os mandamentos da lei, que deveriam trazer vida, trouxeram, em vez disso, morte. O pecado se aproveitou desses mandamentos e me enganou, e fez uso deles para me matar. Isso, porém, só demonstra que a lei em si é santa, e santos, justos e bons são seus mandamentos. Mas, então, a lei, que é boa, foi responsável por minha morte? Claro que não! O pecado usou o que era bom para me condenar à morte. Vemos, com isso, como o pecado é terrível, usando os bons mandamentos de Deus para seus próprios fins perversos." (Romanos 7: 7-13)


O que o Apóstolo Paulo está mostrando é justamente o contrário do que os falsos mestres argumentavam. Eles diziam que deixar de cumprir a lei nos tornaria culpados, pois estaríamos abandonando os mandamentos dados pelo próprio Deus. Contudo, estes mandamentos são impossíveis de serem cumpridos por conta da natureza caída que está na carne. O único jeito de estarmos aderentes à estas leis e mandamentos e não recebermos as maldições oriundas da Lei, é estarmos unidos com Cristo Jesus, o único que foi capaz de ter cumprido a Lei. A lei nos aterroriza e acusa nossa consciência pelo fato de sermos incapazes de cumprí-la. Cristo vive em nós por Seu Espírito, e por Ele viver em nós, "[...] agora não seguimos mais nossa natureza humana, mas sim o Espírito, possamos cumprir as justas exigências da lei." (Romanos 8:4)

Agora, o cumprimento da Lei não está atrelada a justificação, mas ao amor ao Senhor. Se obedecer à Lei é de alguma forma considerado como parte da justificação do pecador diante de Deus, então a morte de Cristo perde o seu valor.


Conclusão

Paulo combateu o legalismo para o bem do Evangelho da justificação pela fé. A busca de recompensa da salvação pelos próprios esforços é uma afronta ao sacrifício de Jesus, o que tenta trazer glória para os atos humanos. Se justificar pela lei é algo inatingível pelo fato da carne está sujeita pelo pecado. O pecado nunca vai deixar o homem cumprir as ordenanças de Deus, esta é a condenação eterna pela Queda. O único capaz de nos justificar é o Filho de Deus, o Cordeiro que tira o poder do pecado sobre seu povo. Através do Seu Espírito, Jesus neutraliza o poder do pecado sobre nós, tirando de nossa consciência qualquer vestígio de condenação. Obrigado, Senhor Jesus, por nos dar um coração novo e sensível a Sua presença e ordem.

Posts recentes

Ver tudo
Post: Blog2 Post
bottom of page