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Jan Huss: A Semente da Reforma

Filho de camponeses boêmios, Jan Huss (1369-1415) viveu uma história intensa como pregador do evangelho. Criado pela mãe, por conta de um fim prematuro do pai, Huss chegou a Universidade de Praga, onde se sustentava cantando nas ruas e nas igrejas. Era conhecido pela sua destreza acadêmica e integridade moral. Concluiu o bacharel e mestrado e, em 1402, se tornou reitor da universidade. Apesar de sua criação no campo e com poucas instruções na adolescência, David S. Schaff, biógrafo de Huss, afirma que: "As qualidades de eloquência, elevação moral e magnetismo pessoal atribuídas a ele mais tarde já devem ter se manifestado na época para explicar esse dom de mais alta distinção universitária. Ele era um homem marcado aos olhos dos alunos e membros da faculdade".



Precursor de uma Reforma

Quando lemos sobre a reforma protestante, é comum associarmos logo à imagem de Lutero, Calvino, Zwinglio... Contudo, muito antes de Lutero, haviam os chamados pré-reformadores. Foram homens de Deus que se levantaram, como Lutero, para exortar e não se conformar com alguns aspectos na teologia e/ou vida que a Igreja Romana levava. Dentre eles, estava Jan Huss. Foi um assíduo pregador que, apesar de sua história eclesiástica de pequenos doze anos, tenha provavelmente pregado cerca de 3.500 sermões.

Huss foi um dos maiores influenciadores de Lutero e o seu espírito de coragem e enérgica pregação era o que a reforma precisaria para ir de frente com os dogmas da Igreja. Nos primeiros dias da Reforma, Lutero admite que: "Nosso movimento de reforma era fraco no início, mas crescia a cada dia. Jan Huss foi a semente; ele precisou morrer primeiro, queimado na fogueira. Isso não pareceria à razão humana uma fraqueza? Mas vejam o que, após cem anos, resultou disso!"

Um dos aspectos da pregação de Huss, era a pregação bíblica. Ele morreu por esta razão. Tudo o que via, seja a igreja, vida ordinária, o mundo, o via em uma perspectiva bíblica. Ele questionava, portanto, o sistema religioso e seu poder, isto é, o poder do papado. Dessa forma, Jan Huss teve um longo alcance em influência. Schaff observa que:


"Jan Huss não pertence apenas à Boêmia. Ele tem um lugar na história religiosa da Europa e do Ocidente [...]. Alguns se sentirão atraídos principalmente por Huss por causa de sua fidelidade à convicção que ele manteve até mesmo na presença de uma morte terrível; outros, pelos princípios que [...] se opunham ao sistema construído durante a Idade Média e [eram] detestados pelos clérigos e teólogos da era de Huss. Não importa como seja visto, como herege ou como advogado da verdade bíblica esquecida, como rebelde contumaz contra a autoridade constituída da igreja ou como defensor dos direitos justos da consciência, [...] esta biografia pretende não só apresentar os ensinamentos e a atividade de Jan Huss e as circunstâncias de sua morte, mas também mostrar a perpetuação de sua influência sobre os séculos que passaram desde seu sofrimento na fogueira. "Ele, mesmo morto, ainda fala". (John Huss: His Life. David S. Schaff, p.vii)


Huss foi o mártir que mais impactou a reforma protestante. Ele foi executado às ordens do Concílio de Constança em 6 de julho de 1415, 102 anos antes da reforma de 1517. Em seu últimos instantes, Jan Huss foi queimado na fogueira cantando.


A Voz Retumbante

Huss entrou em conflito com o arcebispo de Praga por causa dos escritos de John Wycliffe, outro pré-reformador. Baseando-se em Wycliffe, Huss passou a expor o estado corrupto da Igreja, se tornando cada vez mais evidente em sua pregação. Havia uma determinação firme de pregar as Escrituras e a falar na língua do povo, com isso, exigia fidelidade bíblica, puridade moral e reforma eclesiástica. Como Schaff observa: "Suas mensagens ardem de zelo pela religião pura. [...]. Era pregador de todo coração." (Schaff, p.41). Seus ensinamentos, inspirados pelos escritos de John Wycliffe, tratavam de temas como: "1) a Bíblia é a autoridade última para medir a vida, 2) a justificação só é possível por meio da justiça de Jesus Cristo, 3) o papado é uma instituição corrupta criada pelo homem, 4) a igreja verdadeira consiste não numa hierarquia institucionalizada, mas na igreja invisível dos eleitos." (Mark A. Howell. A História da Pregação, p.297). Estes ensinamentos, compreensivelmente, representa ameaça ao poder do papado. Graças a insistência do arcebispo, foi declarada por uma bula papal que os escritos de Wycliffe eram heréticos. Consequentemente, qualquer pregador que as defendesse seria silenciado e punido. Estava, portanto, declarado o conflito entre Huss e o arcebispo, cujo o mesmo foi encarregado de impor a bula e silenciar Jan Huss. Contudo, as ameaças apenas serviram para intensificar a paixão e o zelo pela verdade bíblica, dando mais coragem à sua convicção de precisar realmente reformar a igreja.

A reação de Huss, segundo Howell, foi rápida e afiada, referindo-se ao arcebispo e ao papa como "escribas":


"Visto que nossos escribas desejam o mesmo, ordenando que não haja pregação nas capelas, nem mesmo aquela que foi aprovada pela autoridade apostólica, eu, desejando obedecer a Deus e não aos homens e conformar-me aos atos de Cristo e não aos seus, apelo contra essa ordem errônea primeiramente a Deus, a quem pertence a autoridade principal de conceder o poder de pregar" (Huss citado em Ligus, "Master Jan Huss", p.52)


Ninguém se impressionou com a insubordinação de Huss, visto que ele já estava decidido a ir à frente com esta pregação. Continuou a denunciar, pela autoridade absoluta das Escrituras, a opulência e a opressão do papado. "A coragem de Huss é admirável", relata Howell. Em um de seus sermões dominicais, Huss pregou:


"Alguém dirá: "Mas você, Huss, não deseja estar sujeito aos seus prelados, não deseja obedecer aos presbíteros, nem mesmo ao arcebispo" [...]. Respondo que desejo ser igual ao asno de Balaão. Visto que os prelados estão montando em mim, desejando me obrigar a ir contra a ordem de Deus [...] eu pressionarei os pés de seus desejos e não obedecerei, pois o anjo do Senhor está na minha frente, obstruindo o caminho" (Ibid.)


Jan Huss foi fiel até o fim, mesmo sabendo o que o aguardaria, não hesitou em proclamar a Palavra de Deus. Não temeu a condenação à fogueira, antes, temeu transgredir os mandamentos do nosso Senhor Jesus Cristo. Declarou "que eu prefira sofrer a penalidade de uma morte terrível em vez de afirmar qualquer coisa fora da fé". Suas palavras e vida não foram vãs. Lutero declarou algo parecido, dizendo que sua consciência está cativa à Palavra de Deus, e contrariá-la não é certo nem seguro, e por fim diz "Que Deus me ajude. Amém". Lutero não teve um fim trágico como de Huss, contudo, graças a esta coragem e convicção de ambos, puderam fazer parte da História dos grandes homens que fizeram a diferença na Igreja.


Contribuições para a história da pregação

Sua vida e ministério nos alerta para três grandes lições. Primeiro que, um pregador deve ser, antes de tudo, um pregador bíblico. Suas convicções partiam das Escrituras, e foi isto que o colocou em confronto com a hierarquia eclesiástica e a cultura religiosa de seus dias. Para Huss, "a Bíblia não era uma parte do sermão - era o sermão." Era, portanto, a fonte e substância de tudo que tinha a dizer.

Em segundo lugar, como vemos em sua vida, existem desafios e dificuldades que o ministério cristão enfrenta. Huss tinham convicções que colidiam com a dos poderosos. O resultado disso foi Huss ter passado seus últimos anos separado do ministério e de sua igreja. Pagou com sua vida e proclamou a verdade até seus últimos minutos. As vezes, escolheremos entre a verdade bíblica ou o conforto.

Por fim, as autoridades acreditavam que queimar Jan Huss como um herege junto com seus livros, iria calar sua mensagem. Contudo a mensagem bíblica de Huss está viva até hoje. Nesta terceira lição percebemos o quanto que um ministério biblicamente fundamentado e piamente voltado à Deus tem um impacto eterno. Deus cuidará da extensão de sua influência para usar em Seus propósitos. A jornada de Huss foi profunda e sua convicção nos inspira a percorrermos este caminho sem duvidarmos da verdade de que Deus tem a última palavra.

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